“Não fui bem na entrevista!”
Para falarmos sobre aprendizados para uma próxima oportunidade, preciso ressaltar que existe um perfil que nos direciona na busca dos candidatos. Isso significa que você pode ser um excelente candidato, mas não para todas as vagas.
Perfil do candidato
Já entrevistei muito candidato bom e que não aprovei porque não tinha o perfil para a vaga ou a empresa em questão. E não adianta querer que um coelho voe ou uma águia pule bem alto. Se eu aprovar um exímio piloto para uma vaga que exige que ele escale montanhas com habilidade, há grandes chances do piloto não executar o trabalho e se achar altamente incompetente.
Tendo em vista isso, vamos pensar na hipótese que você tem o perfil para a vaga, mas não conseguiu mostrar as evidências comportamentais necessárias. Como você pode avaliar seu desempenho na entrevista e agir diferente numa próxima?
Principais motivos de reprovação
A grande maioria das reprovações acontece porque o candidato não soube reconhecer vivências na sua trajetória que foram importantes. Sabe aquelas noites mal dormidas porque você estudou para passar de primeira na prova da OAB? Isso pode ser considerado como resiliência, determinação, foco ou força de vontade, dependendo dos valores e perfil da empresa.
Ou quando você se propôs a apresentar o trabalho da iniciação científica num congresso, mesmo sendo tímido e nunca ter falado para mais de 10 pessoas juntas. Chamamos de coragem, autodesenvolvimento, iniciativa ou determinação.
E quando você sugeriu a um professor de uma matéria difícil uma outra forma de abordar o assunto ou algum material que facilitasse o entendimento de seus colegas e ele topou e aplicou, para alegria geral de uma turma inteira? Consideramos isso como inovação, persuasão, capacidade de mudar o status quo, entre outras competências.
Todos os exemplos acima são reais e eu só tive acesso a eles nos momentos finais da entrevista, porque os candidatos achavam que eram exemplos banais (sabe? Coisas do dia a dia, que a gente não dá muita importância!). E nesses momentos, eu juro: quero matar e abraçar vocês ao mesmo tempo (perdoem a força de expressão J).
Sabe por quê? Porque o que nós queremos são exemplos do dia a dia que mostrem o esforço, o aprendizado, os ganhos, perdas e tudo aquilo que tenha contribuído para que cada um seja exatamente o que é.
Como agir na hora da entrevista?
Então, em primeiro lugar avalie: você contou seus melhores exemplos de vida? Sim, porque a não ser que você só assista às aulas e vá para casa ver TV ou jogar videogame, você deve ter vivências interessantes para contar. E se você não tem, então largue a Netflix e vá buscar uma atividade extracurricular agora.
Além de ter exemplos para contar, você precisa saber fazer uma boa narrativa. Toda boa história tem começo, meio e fim. Ela também mostra bem o papel do protagonista e quais desafios e aprendizados ele teve. Seguindo esse roteiro, você tem grandes chances de se sair bem.
Cuide para não ser objetivo demais nas respostas, nem prolixo. Conte os detalhes importantes, mas sem se prolongar porque estes são motivos de reprovação. Você precisa se comunicar com confiança, de forma clara e articulada.
Ainda não sabe exatamente o que quer fazer ou qual área seguir? Saiba que isso também não é favorável. Vocêpode ter dúvidas, mas é preciso ter coerência e mostrar que sua indecisão é fruto muito mais de uma tomada de decisão do que não ter a mínima ideia do que gosta e quer fazer.
Como psicóloga eu poderia ter dúvida se trabalharia com seleção ou desenvolvimento de pessoas ou com orientação profissional, pois isso tudo está debaixo de uma grande área que é a Psicologia Organizacional e do Trabalho.
Mas se eu me candidatasse a uma vaga de atendimento a pacientes na área hospitalar e toda a minha formação fosse na organizacional, isso mostraria algumas coisas a meu respeito: a) que estou “atirando” para todos os lados; b) que não tenho objetivos claros do que quero e onde almejo chegar e c) despreparo (só para citar alguns). Nenhum destes pontos contam a meu favor, percebem? E é essa percepção que temos de alguns candidatos quando nos dizem que querem qualquer vaga, em qualquer área porque buscam aprendizado.
Evite essas respostas genéricas. Definir um rumo inicial para a sua carreira dá trabalho, envolve pesquisa e tempo, contudo só você pode tomar essa decisão. E ela não é definitiva, por isso não postergue a reflexão sobre isso.
O que aprender com a reprovação?
Para finalizar quero contar a história de um candidato de 21 anos que, ao final de uma dinâmica de grupo para uma vaga de estágio, procurou-me para dizer que até aquele momento achava que era cedo demais para se envolver em alguma atividade na faculdade, ou fazer um curso extra e até mesmo procurar trabalho. Sua vida se resumia a ir à faculdade pela manhã, ficar em casa à tarde e jogar bola com os amigos nos fins de semana.
Contudo, quando ele ouviu a apresentação pessoal dos demais candidatos, todos na faixa etária dele, ficou surpreso com a gama de vivências que todos tinham… menos ele. Saiu de lá convicto de que precisava mudar sua atitude se quisesse conquistar uma boa oportunidade no mercado. Nem precisei dar feedback, mas dei nota máxima para sua autoavaliação e disposição em fazer diferente.
Espero que as histórias acima sejam capazes de mostrar todos os aprendizados que você pode extrair de uma reprovação. E caso o seu exemplo seja o da primeira hipótese que apresentei (você é bom, mas não para o perfil que a empresa busca), seu aprendizado está em buscar empresas que sejam compatíveis com você em valores, objetivos e visão de mundo.
Boa reflexão!
Adriana Rodrigues
Consultora – Cia de Talentos