Eu sou apaixonada por talentos e pela força que os jovens têm em desbravar novos caminhos, trazendo mudanças e inovação ao mercado de trabalho.
Todos os anos a Cia de Talentos se empenha em coletar dados na ‘Pesquisa Carreira dos Sonhos’, em que conversamos com milhares de jovens da América Latina para compreender suas necessidades e então levar essas questões às empresas para que se organizem novamente. A pesquisa desse ano, com a participação de mais de 75 mil jovens profissionais do Brasil, constatou o que há algum tempo vem sendo anunciado.
As novas gerações desejam um ambiente de trabalho flexível, em que podem confiar em seus gestores, jornadas de trabalho remotas, transparência da alta liderança sobre o financeiro e sobre as ações das empresas, além de mais oportunidades de desenvolvimento e, principalmente, de mais tempo para viverem suas vidas pessoais. Esses não são desejos apenas dos jovens. Profissionais de todas as idades estão em busca de uma vida mais saudável, não é mesmo?
O mercado está começando a investir em construir times diversos nas empresas, aproveitando o que cada geração, gênero e vivência social têm de diferente, construindo visões estratégicas mais amplas, e dentro desse olhar, estão também os jovens talentos. Sendo assim, suas necessidades deixaram de ser regalias e estão se transformando em visões estratégicas das empresas, que buscam reter esses talentos em seus times.
As revoluções que os jovens trazem vão afetar o mercado de trabalho cada vez mais. Como consultora de carreira há 30 anos, trago alguns recados valiosos às novas gerações de profissionais.
Vocês têm muito a contribuir, mas é necessário fazer uma revolução gentil. Tudo o que hoje vocês criticam foi construído com muito empenho pelos profissionais das gerações anteriores. Tragam inovação, boas ideias, questões construtivas para que o novo mostre que o antigo precisa mudar, mas não se apeguem à ideia de que são os únicos que conhecem o caminho e que precisam derrubar tudo que foi construído.
Paciência. Esse valor não representa submissão e nem conformismo, muito menos comodismo. Paciência é inteligência emocional. Construam novos caminhos com humildade. Se permitam aprender com os profissionais mais experientes e não se percam em julgamentos.
Mas saibam que é possível que vocês encontrem resistências no caminho. Não porque seus gestores não acreditam em vocês, mas porque a mudança é um processo. Ela acontece aos poucos. Desconstruir formas antigas de pensar exigem que ambas as partes tenham respeito pelo tempo. O que pode soar estranho, já que o mercado vem exigindo cada vez mais rapidez, não é mesmo?
Eu adoraria que o mercado enxergasse rapidamente o que não funciona mais. Mas não é bem assim. O mercado é feito de pessoas e elas precisam estar abertas às mudanças o que só chega por meio da compreensão do que não está funcionando. Fomos tão ensinados que errar é inadmissível e para assumir que o conhecido como certo a vida toda não funciona mais exige coragem e humildade. Dois valores escondidos pelo medo do fracasso.
Pois é, o segredo está em diferentes gerações colaborarem para construírem o novo em parceria, oferecendo o que cada uma tem de melhor e dessa forma agilizarem as mudanças necessárias para que a experiência e a inovação caminhem juntas, resultando em progresso. Dessa forma, todos ganham.
Tenham calma, os caminhos vão se abrir. Mas não parem de trabalhar para que o mercado viva novos cenários. Sejam gentis ao mostrarem as falhas atuais do sistema. Façam uma revolução, o mundo precisa. Mas nos ensinem como fazer uma revolução sem guerra, o mundo também precisa dessa inspiração.
No mais, profissionais de todas as idades estão em busca de liberdade, espaço, autonomia e oportunidades de desenvolvimento. Eu desejo que todos possam se abrir e enxergar que tudo bem mudar, que mudar é bom, é necessário e que sempre haverá espaço para quem deseja contribuir com a evolução.
Com calma e paciência e boas pitadas de revolução gentil, nós vamos chegar lá.
*Esse artigo foi publicado originalmente na coluna semanal da Sofia Esteves na revista Exame.