Qual é o seu ator ou atriz preferido? Pode ser o vilão da novela das oito, a heroína do cinema ou os casais de Hollywood. Eu acredito que todo mundo tenha alguém que admire.
No meu caso, um desses nomes é Michael Keaton. Indicado ao Oscar de melhor ator e vencedor do Globo de Ouro, ambos pela atuação em Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância. Ele não é apenas o primeiro Batman dos cinemas ou, mais recentemente, o vilão do Homem-Aranha. O ator – entre tantos outros filmes – também esteve na pele de Ray Kroc, fundador do McDonald’s e no longa Fome de Poder (2016). Em seus papeis sempre está presente muita energia e entusiasmo. Vê-lo em cena nos faz perceber um envolvimento real entre intérprete e personagem.
Neste momento, imagino que você esteja pensando “que raios isso tudo tem a ver com adaptabilidade?”. Bom, a partir dos filmes citados anteriormente vou passar pelo perfil de cada protagonista e mostrar a você como a adaptablilidade de Keaton foi crucial para dar vida aos personagens.
Batman (1989)
Com a responsabilidade de vestir o traje do super-herói mais famoso do cinema, Keaton aproveitou de sua claustrofobia. Isso mesmo. Segundo o ator, o tom fechado e sombrio da personagem – um dos pontos mais elogiados de sua atuação – só foi possível porque a roupa do homem morcego o deixava praticamente confinado. Acredita que ele não conseguia nem ouvir direito quando usava a máscara? Pois é.
Apesar de ter sido o pioneiro e considerado por muitos fãs o melhor Batman de todos os tempos, a aceitação não foi fácil para Keaton. Reconhecido na época como um ator de comédia, a sua escalação para o filme gerou bastante controvérsia antes da estreia. A adaptação ao gênero de aventura, com tom dramático, rendeu ainda o humor ideal para a personagem.
Fome de Poder (2016)
Sem palavras para a atuação de Keaton nesse filme. Sabe aquelas características de energia, entusiasmo e tudo mais mencionadas no começo? Em Fome de Poder, tudo isso aparece em dobro. No mínimo. Também pudera, o longa conta a história de ninguém menos que Ray Kroc, considerado o fundador da rede McDonald’s.
Com alto nível de fidelidade aos acontecimentos reais, é possível assistir ao Michael Keaton frenético dando vida a um empreendedor extremamente ambicioso em busca do sucesso. O filme marca um momento importante para a carreira do ator, justamente numa época na qual ele ressurgia como parte do elenco de grandes produções. Em entrevista à revista online Deadline, ele mencionou a forma como conseguiu criar a personagem em conjunto com o diretor John Lee Hancock. Um dos segredos foi desenhar a figura de Ray Kroc com simplicidade no início do filme e, na medida em que a trama fosse avançado, mostrar todo o potencial decisivo e pragmático de seu temperamento.
Homem-aranha: de volta ao lar (2017)
Ainda sobre seu papel em Batman (1989), há uma fala de Keaton mais ou menos assim: “Ou você morre como o herói, ou vive o bastante para se tornar o vilão”. Ironia da vida ou não, ele viveu o tempo suficiente para se tornar o vilão Abutre no último lançamento do Homem-Aranha.
Aumentando sua experiência em filmes baseados nos quadrinhos, dessa vez o ator viveu uma história diferente: Abutre não tem superpoderes. Ele e sua equipe trabalham com tecnologia de ponta e o enredo aborda questões importantes sobre a identidade pessoal do vilão. Com isso, Michael Keaton assumiu a responsabilidade de abordar de forma diferente um estilo de personagem do qual já se conhece bastante. Se você assistiu ao filme com certeza não viu um antagonista comum, mas sim uma personagem que se arrepende, erra e que tem motivos reais e plausíveis para justificar suas ações. Melhor parar por aqui para não dar spoiler, né?
Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância (2014)
Apesar de fugir da ordem cronológica de produção, decidi deixar esse aqui por último. Keaton viveu uma experiência muito parecida com sua própria história. A metalinguagem entre o filme e a carreira do artista mostram que ele estava no lugar certo na hora certa. O enredo trata especificamente sobre um ator em decadência, buscando seu lugar no mundo após ter interpretado um super-heroi famoso durante muitos anos. Qual era a situação de Michael na época? Estava fazendo trabalhos menores, sendo este considerado o filme que o despontou novamente como nome forte do cinema – não é à toa que engatou Homem-Aranha e Fome de Poder nos anos seguintes.
A preparação foi curiosa, já que segundo o próprio ator o protagonista foi o papel mais difícil que recebeu na vida. Aqui a adaptabilidade se torna mais uma espécie de autoconhecimento, obrigando Keaton a mergulhar em si mesmo e entender o que poderia aproveitar da própria história para viver a personagem. A obra rendeu o Oscar de Melhor Filme e de Melhor Diretor a Alejandro González Iñárritu (o mesmo diretor de O Regresso – 2015).
E na vida real? Bem, já que o assunto é adaptação eu acho que vale dizer sobre a mudança de nome de Keaton. Isso mesmo. Nascido Michael John Douglas, o ator decidiu optar pelo nome artístico por um motivo óbvio: o ator Michael Douglas já estava fazendo sucesso nas telonas e disputar o mesmo nome não seria boa ideia.
Não importa se é na indústria do cinema ou na nossa carreira: adaptar-se às mudanças será sempre necessário. Lembra quando você aprendeu seleção natural na escola? Então, os mais adaptados sobrevivem. Para nos saírmos bem no processo seletivo desse mundo VUCA no qual vivemos, um dos principais pré-requisitos é a capacidade de adaptação. Na vida pessoal e profissional.
Yvo Rafael
Administrador e corinthiano roxo, consultor da Cia de Talentos. Jovem apaixonado por cinema e amante de carros, pode ser encontrado na Dinâmica de Grupo mais perto de você!