Dias atrás, eu e meus amigos resolvemos que íamos montar um quebra-cabeça, desses grandes, daqueles que a gente leva dias montando para poder emoldurar e colocar na parede depois. Nunca havíamos montado um assim, mas nos desafiamos.
Como desafio pouco é bobagem, escolhemos logo um de três mil peças. Quando abrimos a caixa, olhei aquelas pecinhas todas bagunçadas em cima da mesa e a única coisa que pensei foi: “só ficarei satisfeito quando isto aqui estiver pronto!”. Por algum motivo lembrei do meu trabalho e de tantos jovens em início de trajetória profissional com quem tenho contato no dia a dia e, desde então, montar um quebra-cabeça se tornou uma analogia para trilhar uma carreira.
POR ONDE COMEÇAR?
Antes de começar a montar o quebra-cabeça, buscamos dicas na internet sobre como montar um e traçamos uma estratégia para iniciar os trabalhos: encontraríamos todas as peças de canto e montaríamos as laterais. Foram vários minutos vasculhando peça por peça, deixando reservadas aquelas que entendíamos que em breve poderiam ser importantes. Em vários momentos, vendo diversas peças parecidas que se completavam, tivemos vontade de abandonar a estratégia inicial e começar a montar uma parte isolada da imagem, mas voltávamos ao foco. Ter a borda montada seria a referência para todo o resto.
Iniciar uma trajetória profissional, escolher um curso, pensar numa empresa para estagiar ou numa área de interesse para atuar tem tudo a ver com o que eu contei acima. É preciso pesquisar, vasculhar e identificar o que faz sentido e o que não faz. É preciso criar referências e, acima de tudo, ter um foco. Saber aonde se quer chegar.
TRABALHO EM EQUIPE E RESILIÊNCIA
Trabalho em equipe é uma das competências mais requisitadas pelo mercado de trabalho e que nos é ensinada desde o jardim de infância, não é mesmo? Conforme nosso de grau de maturidade aumenta e as questões da vida (acadêmica, pessoal, profissional) vão se tornando mais complexas, a nossa forma de trabalhar em grupo também fica diferente. A grande sacada do trabalho em grupo é entender que cada um tem o seu espaço e que esses espaços são complementares, assim como pecinhas de um quebra-cabeça.
Reconhecendo minhas limitações, tenho consciência de que seria incapaz de montar um quebra-cabeça de três mil peças sozinho. Na nossa (minha e dos meus amigos) jornada de montar um, trabalhamos ora de maneira colaborativa (um tentando encontrar peças para o outro, separando as peças por cores e formato, etc), ora de forma mais focada (cada um atacando um pedaço da imagem).
No mercado de trabalho, também temos que encontrar nosso espaço, respeitar o nosso estilo e o do outro e, mais do que isso, saber se adaptar, desenvolver aspectos da nossa resiliência, se adequar a diferentes cenários e atividades. É importante também parar e refletir sobre o que você faz de melhor e no que você não é tão bom assim e, a partir dessas respostas, usar suas descobertas (as potencialidades) ao seu favor. Quem me conhece sabe que sou péssimo com cores (e olha que a imagem que escolhemos para montar é cheia delas), mas na hora de montar o quebra-cabeça posso ser bom com outras atividades: a organização das peças, a atenção aos detalhes, entre outros pontos.
INFINITAS POSSIBILIDADES
Não sei se vocês sabem, mas estamos, nesta nossa geração, formando jovens para profissões que ainda nem existem. Há anos, quem poderia pensar que ser youtuber seria uma profissão, por exemplo? Às vezes, durante a montagem do quebra-cabeça temos uma sensação de que as peças se multiplicam, assim como acontece com as profissões e possibilidades no mercado de trabalho.
Temos esta sensação (de que o volume de peças se multiplica) porque:
1) às vezes, insistimos demais em uma peça, não encontramos o lugar certo para encaixá-la e não avançamos, não conseguimos sair do lugar
2) às vezes, parece que já tentamos encaixar todas as peças num determinado espaço e também não avançamos.
É normal achar que estamos indo pelo caminho errado – e isso ainda poderá acontecer muitas vezes! Nesses momentos, é preciso olhar as coisas de outro ângulo. Dia desses, não estávamos evoluindo na montagem. Bastou virar o quebra-cabeça de ponta cabeça (como toda repetição de palavras que esta frase nos permite) para identificar onde estávamos errando.
É comum querermos culpar a crise ou o alto grau de exigência das empresas para as coisas que não dão certo. Por outro lado, já parou para se perguntar: “diante desta infinidade de possibilidades que o mercado me apresenta, será que estou insistindo mesmo naquilo que vai ser melhor pra mim, visto que não está dando certo?”, “já tentei tantas vezes entrar no programa de estágio desta empresa e nunca deu certo. Será que ela tem mesmo a ver comigo?”, “quero tanto trabalhar nesta área, mas não tenho nada a ver com quem normalmente trabalha com isso. Será que esta área é mesmo o meu lugar?”. Estas perguntas são apenas uma inspiração, mas lembre-se que no mercado somos peças de um quebra-cabeça infinito, sendo selecionados o tempo inteiro, dadas as nossas capacidades e interesses, mas temos também o poder de selecionar e identificar onde, dentre esses tantos espaços, iremos melhor nos encaixar.
SATISFAÇÃO
Não teríamos nos desafiado a montar um quebra-cabeça se não gostássemos de jogos e de exercícios mentais, que exigem da nossa percepção, paciência e estratégia. Não é todo dia e toda hora que queremos nos dedicar a esta atividade, mas sabemos que se não nos dedicarmos não teremos a satisfação de ver este quebra-cabeça pronto. Nos demos um prazo para concluí-lo e sabemos que se não houver disciplina, empenho e organização, não o cumpriremos.
Quantas referências ao mercado de trabalho e à carreira, num parágrafo só, né? Gestão do tempo, manter-se atualizado, ter disciplina para estudar, para acompanhar o cenário do País, do mundo, da área de atuação que você escolheu. Ter a paciência para entender que nem tudo acontece na hora em que queremos, mas se estivermos preparados as oportunidades aparecem. Ter percepção para identificar uma oportunidade e estratégia para chegar onde quer. Tudo isto são elementos que comporão a satisfação pessoal de cada um na trajetória profissional.
Tenho quase certeza que quando terminarmos de montar o quebra-cabeça vamos querer começar a montar outro. E você? Qual o seu próximo passo?
Luís Maurício
Consultor – Cia de Talentos