Recentemente, a Folha de São Paulo divulgou que, nos últimos 10 anos, as empresas brasileiras eliminaram mais de 1 milhão de vagas de gerência e supervisão sendo que grande parte delas foram excluídas entre 2015 e 2017. Esta nova realidade pode ser explicada pela necessidade de redução de custo e também por novas maneiras de organizar o trabalho, por exemplo, com o ganho de visibilidade da estrutura horizontal.
A história é bem diferente quando falamos sobre contratação de estagiários e estagiárias. Nos últimos anos, houve um aumento no número de vagas e de contratação deste tipo de profissional. Os dados do Relatório Benchmarking Programa de Trainee e Estágio 2017 apontam que 71% das empresas participantes tem um programa formal e estruturado de estágio e a maioria deles foi criado nos últimos 10 anos.
Por que estes dados são importantes? O que eles estão mostrando além do fato de termos uma desaceleração na contratação de posições de média gestão e um aumento na contratação de estagiários? O que eles dizem além da questão da juniorização do mundo do trabalho?
Estes dados direcionam nosso olhar para qual cuidado estamos tendo com a formação dos profissionais. As mudanças fazem parte do mundo e da vida, mas quando elas acontecem precisamos nos adaptar e criar novos mecanismos para dar conta daquilo que é prioritário e, sem dúvida alguma, orientar e apoiar os colaboradores precisa estar no topo da lista de prioridades de uma empresa. Então, quais são os novos mecanismos que estamos propondo para substituir o papel da média gestão na formação técnica e comportamental da equipe (aprendizes, estagiários, analistas, coordenadores)? Como estamos orientando e preparando as pessoas, principalmente aqueles que estão entrando no mercado de trabalho, sobre as novas regras de desenvolvimento?
A maioria das empresas (61%) que buscam estagiários apontam como principal objetivo a captação de pessoal com potencial, com pouca ou nenhuma experiência profissional e que possam ser preparados e desenvolvidos de acordo com os valores e cultura da empresa. Portanto, assume-se que estão contratando profissionais que precisam de orientação, de suporte, mas também são capazes de realizar atividades relevantes e desafiadoras.
O estágio tem um papel importante na formação profissional e no processo de aprendizagem e desenvolvimento. Além de favorecer a fixação de novos conhecimentos, por meio de atividades práticas, o estágio – muitas vezes – é o primeiro contato do estudante com o mercado de trabalho e com a realidade com a qual terá que lidar após a formação profissional.
Ser uma empresa responsável e moderna significa entender que o estágio é um período preparatório, de experimentação e construção da identidade profissional. É também agir de forma coerente com esta crença. Como diz Raj Sisodia, “negócios são vidas reais de pessoas reais e isto é a tendência no mundo do trabalho”.
As empresas precisam ficar atentas ao lucro, a perenidade do negócio e à inovação, mas, lado a lado com tudo isso, precisam estar atentas às pessoas e como apoiar a formação dos profissionais ao mesmo tempo em que estimulam a autonomia, o autodesenvolvimento e o protagonismo, porque hoje não adianta apenas termos profissionais que permanecerão nas nossas empresas, precisamos que eles permaneçam relevantes para o negócio.
Esta é a única maneira de criarmos um mercado dinâmico, com profissionais preparados para os diferentes desafios profissionais e as constantes mudanças que fazem parte de nossa rotina diária.
O que estamos fazendo para orientar e dar suporte aos estagiários? Como estamos colaborando para sua formação profissional? Qual investimento estamos fazendo para ter um mercado de trabalho mais maduro?
Essas são perguntas importantes que precisam ser pensadas, internalizadas e respondidas, para que possamos ser cada vez mais assertivos em nossas ações.
Por Danilca Galdini
Diretora da NextView People
Fonte: Folha de São Paulo