Sobre a violência contra a mulher
No último dia 26 de fevereiro, ocorreu em São Paulo mais uma edição do Comitê de Diversidade da Amcham – Câmara Americana de Comércio. O evento contou com a presença de Daniela Grelin, diretora-executiva do Instituto Avon, Carolina Ferracini, gerente de programas para o enfrentamento da violência contra mulheres da ONU Mulheres e Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza. Com mediação de Maria Fernanda Teixeira, presidente do comitê, elas discutiram o tema “O papel das empresas no enfrentamento da violência contra as mulheres”.
Para iniciar o debate, Carolina apresentou um painel do Fórum Brasileiro de Segurança Pública sobre a vitimização das mulheres no Brasil (Março/2017). O estudo traz uma série de dados extremamente relevantes, porém, no momento, iremos focar apenas nos números relativos ao universo do trabalho.
29% das mulheres que responderam à pesquisa afirmaram ter sofrido algum tipo de violência (ofensa verbal, ameaça, perseguição, ofensa sexual, lesão provocada por objeto, entre outros) nos últimos 12 meses, sendo que 43% desses casos ocorreram em casa, 39% na rua e 5% no trabalho.
Quando analisamos a vitimização de mulheres de alta renda (mais de 10 salários mínimos), nos deparamos com um dado alarmante: 52% dos casos ocorreram em casa e 23% no ambiente de trabalho. Já quando olhamos para as mulheres de baixa renda, esse percentual está distribuído entre seu ambiente familiar (43%) e a rua (44%).
Outro dado que chamou atenção foi o fato de uma em cada cinco mulheres, entre 16 e 34 anos, ter declarado receber ”cantadas ou comentários desrespeitosos no trabalho”. Por fim, o estudo também constatou que as mulheres que sofrem agressão ganham, em média, 10% a menos.
Em sua apresentação, Daniela também trouxe um dado muito importante: segundo estudo realizado pela Universidade Federal do Ceará, em parceria com o Instituo Maria da Penha, 1 bilhão de reais é perdido por ano no Brasil por conta da violência sofrida pela mulher no ambiente doméstico.
O QUE ALGUMAS EMPRESAS JÁ ESTÃO FAZENDO
Sabendo do impacto que a violência contra a mulher gera no resultado dos negócios e também pensando no bem-estar de seus times, as empresas estão implementando cada vez mais iniciativas para acolher a mulher que é vítima de violência.
A Avon, por exemplo, possui uma política interna para cuidar do tema que é pautada por 3 pilares: prevenção, intervenção e proteção. Entre as ações de prevenção podemos destacar um treinamento anual obrigatório para a liderança, que sensibiliza o time para saber reconhecer o perfil da mulher que sofre agressão e os prepara para a primeira abordagem nessa situação. Há também um time de líderes e do RH que é treinado para conduzir os casos detectados (intervenção). Além disso, há uma série de medidas que visam a proteção da mulher em situação de violência, como: o abono de faltas em caso de ida à delegacia e a revisão do escopo de trabalho.
O Magazine Luiza, por sua vez, possui um canal exclusivo para ouvir e acolher esses casos: o Disque Denúncia Luiza. O canal foi criado em resposta a um caso que chocou Luiza Helena e o seu time em 2017. O vídeo de lançamento do projeto é público e pode ser assistido aqui.
Por fim, queremos aproveitar esse 8 de março para propor uma reflexão: como nós e as empresas em que trabalhamos podemos contribuir para mudar esse cenário? Qual o nosso papel enquanto RH nisso tudo?
Sabemos que não há uma resposta pronta, no entanto, ao refletirmos sobre essa questão podemos, juntos, trilhar um caminho de escuta, apoio, enfrentamento e combate à violência contra a mulher.
Por Jéssica Rodrigues
Analista de Marketing do Grupo Cia de Talentos