Vira e mexe essa pergunta ainda aparece nas entrevistas de emprego. E ela conta – e muito – sobre o mercado de trabalho do passado. Sim, é bem ultrapassado acreditar que no atual contexto que vivemos, com tantas mudanças, velocidade e conexões, alguém iniciando a carreira saiba responder com exatidão essa pergunta. Arrisco dizer que quem faz a pergunta também não tem certeza aonde pode e quer estar daqui 5 anos. E por que ela resiste, então, bravamente nos manuais de entrevista? Senta que lá vem história. #ratimbumfeelings
Há mais de 10 anos, algumas empresas podiam e ofereciam crescimento acelerado como reconhecimento de um bom desempenho. Entregou os resultados? Bateu a meta? Dá-lhe crescimento vertical: júnior, pleno, sênior, coordenador, supervisor, gerente. E junto com os cargos vinham os salários mais altos, carro da empresa, bonificações, viagens etc. Só que essa não era a realidade e possibilidade de todas as empresas, muitas delas não tinham uma estrutura ou uma cultura que garantiam essa velocidade. Se o profissional tinha, então, uma expectativa de crescimento e a organização não podia (ou queria) oferecer, era frustração na certa. Dos dois lados. Melhor perguntar já na entrevista: como você se vê daqui 5 anos?
E por que 5 anos?
Essa era uma média de tempo para ir do cargo inicial a um de gestão de pessoas. Ou seja, se a resposta da pessoa entrevistada revelava que em 5 anos ela queria estar além de um cargo de supervisão ou gerência, o ideal era a vaga na empresa com essa velocidade de crescimento. Quando não era esse o principal valor para o profissional, a resposta incluía outro tipo de busca como se tornar referência naquilo que fazia ou atuar com determinado tema e projeto. Aí sim, a estrutura que não tinha essa aceleração de cargo estava no páreo.
Hoje é bem diferente. Dificilmente uma organização quer e pode oferecer cargo como recompensa. As estruturas, cada vez mais, são enxutas e as mudanças constantes. Ser líder de pessoas não é mais o único e absoluto sinal de sucesso profissional e o crescimento horizontal tem sido uma prática bem comum. Entregou seus resultados? Colaborou com os objetivos do time? Vai lá experimentar novas áreas e projetos ainda mais desafiadores.
A pergunta resiste, então, porque nela mora a tentativa de entender se a empresa vai poder corresponder às expectativas daquele profissional. Não que 5 anos continue uma média. Não que nesse futuro sempre em beta seja possível ter um único e imutável objetivo profissional, mas as organizações ainda querem saber o que vai te fazer feliz ou frustrado.
Caso você, assim como eu, tenha dúvidas de onde quer estar daqui 5 anos, pode ir em frente sem desespero. A sua resposta não é uma assinatura de contrato, e sim um panorama de quem você é e o que te faz querer ficar em uma empresa. Fale sobre isso. O que agora, no curto prazo, parece um caminho interessante? Quais temas ou áreas do conhecimento te chamam a atenção? Você se vê liderando pessoas ou tá mais para querer ser um baita entendedor de um assunto? É isso que quem tá do outro lado da mesa quer ouvir. Prometo que, aqui desse lado, a gente da Cia de Talentos vai tentando dar um F5 nesses manuais de entrevista espalhados por aí.
Por Renata Magliocca
Consultora de inovação da Cia de Talentos