A resposta para essa pergunta passa pela contextualização da nossa relação com o tempo e com o consumo. Hoje, quando pensamos em tempo, percebemos que é possível realizar muito mais coisas, em uma mesma quantidade de horas do que fazíamos há 10 ou 20 anos. Já em relação ao consumo, antigamente, não tínhamos muito controle de onde e quando consumíamos alguns serviços. Por exemplo, se eu precisava ir ao banco, tinha que fazer isso entre 10h e 16h, porque só somente nesses horários as transações poderiam ser realizadas. Hoje, eu consigo executar inúmeras operações bancárias de qualquer horário e lugar, praticamente. Ou seja, temos muito mais controle do nosso tempo e da nossa forma de consumir.
Quando observamos essas mudanças temos a clara noção do porquê de os treinamentos de 8h estarem com seus dias contados, afinal, cada vez menos fará sentido estarmos presentes em horário específico para aprender e nos desenvolver. Se a relação com o tempo e com a forma de consumir mudou, então, também já não é a mesma a nossa forma de aprendizagem. Prova disso é o grande crescimento dos podcasts, que permitem o consumo de conteúdo no espaço de tempo livre que cada pessoa tem, ou seja, é possível aproveitar brechas que não estavam sendo utilizadas de forma inteligente para aprender algo.
Cada vez mais, a aprendizagem está seguindo o modelo da Netflix: eu aprendo o que quero, na hora em que desejo, no melhor lugar para mim. O que está por trás disso é a aceitação de novos formatos de educação-aprendizagem, que começam a ganhar tanta importância quanto aqueles tradicionais a que estamos mais acostumados.
Outro ponto importante para a mudança dos modelos de treinamento é que a aprendizagem deixa de ser um evento pontual e passa a ser um processo contínuo, ou seja, quanto mais intervenções espaçadas e contínuas houver mais forte fica a conexão com o dia a dia das pessoas e da organização. Esse novo formato, porém, também carrega desafios. Em um país como o Brasil, que possui grande extensão geográfica, reunir pessoas que estão em diferentes cidades torna-se um desafio: pelo tempo gasto (em deslocamento) e pelo custo (passagem, hospedagem, etc.). Portanto, usar a tecnologia para resolver esse complicador pode ser a solução. Lançar mão de ações virtuais, com a interação de um facilitador, traz a proximidade humana e o olhar individualizado no acompanhamento de dúvidas. O resultado disso? Mais engajamento das pessoas.
É importante lembrar que, com o fim dos treinamentos de 8h, o papel do RH também muda. Quando a organização traz a aprendizagem para um processo contínuo, a área de recursos humanos se torna um ator muito proativo na promoção constante de uma cultura de aprendizagem. Da mesma forma, os colaboradores também passam a ser muito mais protagonistas de seu processo de aprendizado. Agora, não basta estar de corpo presente nos treinamentos. A empresa pode dar os caminhos, mas cada pessoa é responsável por montar suas trilhas de desenvolvimento, garantir as leituras sugeridas e realizar as atividades.
Para quem não está acostumado, esse novo modelo de aprendizado pode ser desafiador, mas promover uma cultura de aprendizagem constante é incorporar resultados mais consistentes para as organizações e seus colaboradores.
** Texto adaptado de original escrito por Sofia Esteves para a Exame.com