91 dias. É esse o tempo que dura a paixão. Uma recente pesquisa do Indeed, maior site de empregos do mundo, revelou que após 91 dias de trabalho em um novo emprego, o contratado já está em busca de uma outra vaga. Não é mera coincidência, o tradicional tempo de experiência também é esse. Empresas e pessoas são mesmo bem parecidos. As organizações buscam profissionais de ficção científica, que combine comportamentos e conhecimentos humanamente improváveis num mesmo ser.
Os profissionais sonham com um emprego ideal: que pague bem e todo dia seja sábado. Há um desencontro de expectativas, isso é claro. Processos seletivos, cada vez mais, lembram aplicativos de namoro ou contos de fada. A princesa enclausurada à espera do príncipe. O príncipe em busca da princesa disfarçada de garota simples. No final, quando tem o primeiro beijo, os dois viram sapos.
No último mês, vivi uma experiência bem diferente na feira de carreira da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Estudantes organizaram 2 dias de encontro entre empresas e alunos, mas não tinha uma vaga para ser preenchida. Não tinha um teste de inglês para ser avaliado. Era um encontro entre pessoas reais com experiências diferentes. Só isso. E isso foi muito.
Os alunos estavam ali porque queriam treinar a apresentação da própria história e esperavam um feedback de quem está no mercado de trabalho selecionando profissionais. Os representantes de RH estavam ali para construir relacionamento com futuros talentos e invertendo a lógica: primeiro cuidando do desenvolvimento daquele jovem, para, então, quem sabe um dia, selecioná-lo. Foi um alívio. Ninguém precisava convencer ninguém de nada!
A maioria, alunos e selecionadores, não encarou como um teatro, era um aprender compartilhado. Alunos, sobre o mercado de trabalho. Selecionadores, sobre expectativas e valores da nova geração. É nessa lógica que eu acredito.
Acho que paixão só cura quando você encara que é isso mesmo, o outro é de verdade. Tem qualidades e defeitos como você. Não vai existir relacionamento perfeito, emprego também. Isso não quer dizer que você não precisa ir em busca de quem ou do que gosta. Facilita demais quando a gente não precisa fazer um esforço descomunal para ser feliz, mas não dá para eliminar o esforço. Não conheço talento algum que sobreviveu sem ele. Não conheço casamento algum que sobreviveu sem uma bela dose de confiança e muita adaptação.
Por Renata Magliocca
Consultora de Inovação